Cada dia que se passa vão-se conhecendo mais pormenores sobre o trabalho de José María Enríquez Negreira no Barcelona. O clube catalão terá pago mais de sete milhões de euros ao ex-vice-presidente do Comité Técnico dos Árbitros de Espanha, entre 2011 e 2018, quando Negreira prestou serviços de consultadoria na emblema culé.
O portal 'Libertad Digital' divulgou esta sexta-feira um dos relatórios de Negreira que está na posse das autoridades espanholas. É o relatório do árbitro Carlos Delgado Ferreiro, nomeado para apitar o Barcelona-Real Madrid, que terminou empatado a duas bolas a 7 de outubro de 2012, com dois golos de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi.
No mesmo relatório, Negreira avisava que os blancos "nunca perderam um jogo apitado pelo árbitro basco". E recordava que tinha sido este o árbitro quem expylsou o internacional português Pepe, na temporada 2008/09, "por pisar Casquero" (Pepe apanharia dez jogos de suspensão).
"Não se deixa influenciar pelo público ou pela tensão do ambiente, muito menos depois das sete temporadas que leva na primeira divisão. Gere bem a pressão e é capaz de desfrutar do seu trabalho em campo. Na atualidade, está num bom momento de forma, muito ajustado e seguro de si mesmo. Até agora, só uma de um total de cartões amarelos foi exibido por protestar, outro por mão na bola e os restantes por derrubar um adversário", pode-se ler.
No seu relatório, Negreira avisou que Carlos Delgado Ferreiro "não permitirá nenhum tipo de simulação", pelo que chamava a atenção do jogo de Alexis Sánchez, que se tinha atirado para o relvado nos últimos jogos de forma propositada.
"Por ser adepto de aplicar a lei da vantagem, deixa de assinalar faltas à entrada da grande área nas quais a equipa tira melhor proveito se as assinalasse. Por isso, será melhor ir ao chão ou parar para forçar que as assinale", pode-ser ler ainda no relatório.
No dia 10 de março, o FC Barcelona, vários seus ex-dirigentes e o ex-responsável da arbitragem José Negreira foram indiciados por corrupção, abuso de confiança e registos comerciais falsos, num caso de pagamentos avultados ao antigo árbitro de futebol. O Ministério Público apresentou uma denúncia formal no Tribunal de Instrução número 1 de Barcelona contra o clube, enquanto pessoa jurídica, bem como contra os seus antigos presidentes, nomeadamente Josep Maria Bartomeu e Sandro Rosell.
O caso surge na sequência de investigações que o Ministério Público de Barcelona iniciou há cerca de um ano e que dão conta de que o antigo responsável da arbitragem espanhola recebeu, através de uma empresa, quase sete milhões de euros por suposta assessoria, verbal, ao clube, entre 2001 e 2018.
Este caso, no qual o clube catalão é associado ao crime de corrupção em negócios de forma continuada, vai ser apenso a um outro, resultado de uma denúncia apresentada nas últimas semanas pelo antigo árbitro e atual videoárbitro Estrada Fernández contra Negreira e a empresa Dasnil 95, por corrupção desportiva.
Supostas irregularidades fiscais cometidas pela empresa de Negreira expuseram, em maio de 2022, os pagamentos recebidos pelo antigo vice-presidente da Comissão Técnica de Árbitros.
De acordo com a justiça espanhola, o Barcelona “manteve um acordo verbal estritamente confidencial” com José Negreira, de forma a que este, “a troco de dinheiro, realizasse ações tendentes a favorecer o Barcelona na tomada de decisões dos árbitros” nos seus desafios.
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