O Estádio do Dragão transformou-se esta sexta-feira numa enorme máquina do tempo para receber nomes que, por si só, são a magia do futebol. Deco, o grande anfitrião da noite, nem era obrigado a encher o campo com passes a rasgar a defesa e golos de antologia. Lionel Messi nem precisava de ziguezaguear pela agora veterana defesa portista. A festa já era de gala e só por si já assentava como uma camisola 10 (ou 20) na ocasião, mas os astros, apesar das imponentes barrigas de alguns dos mais veteranos, fizeram questão de dar o ar da sua graça aos quase 50 mil adeptos que encheram o recinto.
Do lado portista, o losango de Mourinho (que foi substituído no banco por Fernando Santos) estava lá. Costinha, Maniche, Pedro Mendes e Deco voltaram a compor logo de início um meio-campo que tantas alegrias deu aos “dragões”. Nas redes, o inevitável Vítor Baía. Na defesa, Paulo Ferreira, Nuno Valente, Ricardo Carvalho e Jorge Costa. Ao ataque, Derlei e Benni McCarthy com a missão de voltar a fazer balançar as redes adversárias dez anos depois da glória europeia. Além de José Mourinho, só faltou Carlos Alberto, que inaugurou o marcador em Gelsenkirchen.
Faltaram Frank Rijkaard, Ronaldinho Gaúcho e Xavi na equipa catalã, que apresentou Edgar Davids (e os seus famosos óculos) no relvado do Dragão. Curiosamente, o holandês nem fazia parte da equipa que se sagrou campeã europeia em 2006, mas ninguém se preocupou demasiado com tais detalhes. Acima de tudo queria-se uma festa e, além disso, havia Lionel Messi.
À hora marcada, quase não se avistavam lugares vazios. Os adeptos rumaram ao recinto para homenagear um predestinado do futebol. Para agradecer os golos de levantar não só este, mas qualquer estádio. Mas também para recordar uma equipa que, longe do estatuto dos “tubarões” europeus, conquistou a prova mais exigente do mundo do futebol de clubes.
Mais de dez anos depois, o primeiro golo da noite foi de Derlei. O “ninja” recebeu um passe de Benni McCarthy e bateu Jorquera com tranquilidade para abrir o marcador. Não foi uma tarefa tão difícil como bisar na final da Taça UEFA, mas nem tinha de o ser. McCarthy fez depois o gosto ao pé com uma grande assistência de Deco. Não fez “cinco ou seis”, como voltou a pedir o público, mas deixou mais uma vez a sua marca no resultado.
O anfitrião trocou de camisolas ao intervalo e surgiu muito bem acompanhado por Samuel Eto’o e Lionel Messi. O argentino, eterno rival de Cristiano Ronaldo pelo título de melhor do mundo, recebeu uma enorme mistura de aplausos e apupos quando ultrapassou três jogadores e Bruno Vale para assistir Eto’o. Logo depois foi Deco a empatar a partida com um chapéu sobre o guarda-redes portista, pedindo as devidas desculpas aos adeptos da casa.
Edgaras Jankauskas, para o FC Porto 2004, e mais uma vez Eto’o, para o Barcelona, consolidaram o festival de golos que se pedia. O craque Lionel Messi, de cabeça, fez a reviravolta no jogo. Deco, que voltou a envergar a camisola portista nos minutos finais, redimiu-se do golo apontado pelos “culés” ao fixar o resultado final em 4-4 com um remate a fazer lembrar os seus tempos mais áureos.
Assim se fez a despedida de um ícone dos relvados. Aquele que é o número 10, que finta com os dois pés e que, para alguns, é melhor que Pelé. Deco é dos portistas, sim. Dos portistas que o viram dar um toque de classe para garantir a conquista da Liga dos Campeões em Gelsenkirchen. Dos muitos portistas que saltaram as barreiras do campo no final do jogo esta noite para o abraçar.
Mas é dos salgueiristas, dos “tricolores” do Fluminense e dos ribatejanos do Alverca. É dos barcelonistas, que o viram elevar uma equipa já de si fantástica para o apogeu do futebol europeu. Mais que isso, é dos portugueses. Dos portugueses que o viram assumir, com a classe que nunca o abandonou, a árdua missão de substituir Rui Costa como maestro das quinas.
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