Foi, porventura, a melhor resposta que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) poderia dar às constantes críticas às arbitragens que pautaram a presente temporada. Fernando Gomes decidiu impor a entrada em cena do vídeoárbitro já na próxima época, em todos os 306 jogos da Liga, antecipando assim uma medida incialmente prevista para 2018/2019. O objetivo? Reduzir ao máximo o número de erros com influência no resultado, e, consequentemente, as queixas dos dirigentes dos clubes.
A confirmação surgiu esta manhã, pela voz do presidente da FPF, Após autorização do International Board (IFAB). "O IFAB, em função da capacidade que cada federação demonstra, pode autorizar a sua utilização oficial. E já recebemos a indicação de que isso será possível no nosso caso”, salientou Fernando Gomes, em declarações à assessoria da FPF.
A decisão terá obviamente os seus custos, custos esses que serão suportados na totalidade pela Federação, de acordo com a imprensa desportiva - cerca de dois mil euros por jogo, o que perfaz um total de 600 mil euros por ano, já com o preço a pagar ao árbitro extra inculído. Será, de resto, a primeira vez em muitos anos que o organismo presidido por Fernando Gomes disponibilizará dinheiro do seu orçamento para o futebol profissional – tal não acontecia desde que a Liga assumiu a organização das competições profissionais.
Não era uma notícia anunciada, pelo menos para já, mas a verdade é que ao longo da última época já haviam sido realizados vários testes offline na Taça de Portugal, cabendo à final, que colocará Benfica e Vitória de Guimarães frente a frente no Jamor, receber o primeiro ensaio online. Uma inovação no futebol mundial, uma vez que será a primeira final no mundo a ser jogada com recurso a esta tecnologia. Também o primeiro jogo da próxima temporada, a Supertaça, decorrerá com recurso ao VAR.
Depois de, a 5 de março de 2016, o International Board ter dado luz verde à introdução do VAR no futebol, Portugal foi um dos primeiros seis países a avançar para os testes, a par de Austrália, Brasil, Estados Unidos, Alemanha e Holanda. Um ano e dois meses depois, a Austrália já avançou com a tecnologia, ao passo que Portugal, Holanda e Alemanha já anunciaram que vão implementar o VAR na próxima época.
Cidade do Futebol como centro tecnológico de apoio
Mas, então, como funcionará o vídeoárbitro? Ao contrário do que aconteceu nos testes em modo ‘offline’, a equipa de vídeo-árbitros e técnicos de audiovisual não estará numa carrinha no exterior do estádio em que tiver lugar o jogo. O objetivo passa pela criação de um centro de monotorização dentro da Cidade do Futebol, onde estarão os vídeoárbitros nomeados pelo Conselho de Arbitragem para auxiliar e comunicar com o árbitro em campo.
De acordo com o jornal Record, trata-se de uma sala de 35 metros, com vários ecrãs, cada um deles com imagens em direto e em bruto de cada uma das câmaras que serão utilizadas na transmissão televisiva do encontro. Uma forma de poupar dinheiro e, simultaneamente, garantir total tranquilidade no trabalho da equipa destacada para o efeito.
Nas primeiras jornadas, existe a possibilidade de a FPF precisar de um centro móvel (uma carrinha no exterior do estádio) em alguns recintos, mas a ideia é que, com o avançar da competição, seja a Cidade do Futebol o centro tecnológico de apoio a todos os jogos.
Durante os próximos meses, engenheiros e técnicos da Federação vão vistoriar todos os estádios dos clubes da Liga, de modo a aferir o que é preciso para que todos sejam dotados dos meios necessários à aplicação da tecnologia. Por exemplo, será necessário encontrar, junto ao relvado, um local em que se possa colocar uma televisão para que o próprio árbitro possa analisar os lances.
Por outro lado, a introdução do vídeoárbitro irá revolucionar o método de treino e preparação dos próprios árbitros. Diz o jornal Record que, neste momento, são nove os juízes do quadro principal que já recorreram à tecnologia, fosse na carrinha situada no exterior do estádio ou na bancada a receber as informações para simular o trabalho do árbitro.
Neste sentido, a FPF acredita que tal não será um problema, uma vez que grande parte da preparação dos árbitros já passa pelo recurso às imagens de vídeo. Jorge Sousa já esteve em seis partidas como VAR, no tal veículo de apoio, uma das quais num particular entre Itália e Alemanha, dirigido por outro português, Artur Soares Dias, ele que recentemente fora nomeado pela FIFA para estar na Taça das Confederações, como vídeoárbitro.
Os casos em que o VAR pode decidir
São quatro as situações em que o vídeoárbitro pode auxiliar na decisão: golos, pénaltis, expulsões e trocas identidade. Mas vamos por partes
Golos: Neste caso, o papel do vídeoárbitro passa por ajudar o juíz a determinar se houve ou não infração que determine a anulação da jogada. Pode aplicar-se a faltas ou a foras de jogo que não tenham sido sancionados.
Penáltis: O VAR deve assegurar que não existem decisões erradas na marcação de grandes penalidades. Em caso de dúvida, o árbitro pode pedir a análise da jogada a quem está a acompanhar o jogo nas televisões ou verificar ele mesmo as imagens para tomar a melhor decisão.
Expulsões: O papel do vídeoárbitro é assegurar que o árbitro de uma partida não erra quando toma a decisão de expulsar ou não determinado jogador, através do recurso às imagens televisivas.
Troca de identidade: No caso de o árbitro se enganar na atribuição de um amarelo ou vermelho, trocando a identidade do infrator ou mesmo tendo dúvidas sobre que atleta cometeu a infração, deverá ser avisado pelo vídeoárbitro a fim de corrigir a situação.
De referir que o árbitro, independentemente da indicação que recebe do VAR, pode sempre decidir avaliar ele próprio o lance, e só posteriormente tomar uma decisão. Já a situação de fora de jogo não está contemplada nesta tecnologia, a não ser que resulte em golo. De resto, a introdução em Portugal da tecnologia da linha de golo, já utilizada em competições como a Premier League, não está prevista para os próximos tempos.
Atraso na TV de 1,7 segundos
Nos testes já realizados pela Federação, as imagens demoraram um máximo de 1,7 segundos a chegar à sala de vídeo-árbitro. Segundo noticia o Record, este valor corresponde ao perído de tempo entre um acontecimento dentro de campo e a emissão nos televisores disponíveis para o VAR. O máximo exigido pelo International Board está fixado nos 2 segundos.
Vídeoárbitro também no Mundial 2018
A 26 de abril, o presidente da FIFA, Gianni Infantino, fez saber que a tecnologia do vídeoárbitro será utilizada também no Mundial 2018. Infantino justificou a decisão com o “feedback positivo” que o organismo recebeu nas várias experiências já realizadas até então, incluindo as que decorreram em jogos oficiais.
Apenas três dias antes, David Elleray, antigo árbitro internacional e diretor técnico do International Football, já havia avançado a intenção de aplicar esta tecnologia na Rússia. Neste caso, o mecanismo será utilizado apenas em situações de golo, grandes penalidades e cartões vermelhos diretos. Existe, no entanto, uma situação em que esta tecnologia não poderá ser aplicado.
"Se um golo resulta de um canto mal assinalado, o vídeo-árbitro nada pode fazer e temos de aceitar, pois as leis dizem que a partir do momento em que o árbitro dá ordem para o recomeço do jogo já não pode voltar atrás”, disse, então, Elleray, assegurando ainda que a introdução do VAR não prolongará a duração da partida nem quebrará o ritmo da mesma.
"Não queremos ter 10 intervenções por jogo. Nos testes que estamos a fazer nos Estados Unidos, apenas utilizámos o sistema três vezes em 10 jogos. Em 40 segundos é possível resolver um caso de arbitragem", garantiu. "Não queremos uma sitaução em que os árbitros digam 'Não sei se é penálti ou não, quero ver repetição'", finalizou.
Um dos casos mais gritantes em que o vídeoárbitro foi aplicado aconteceu num particular entre Espanha e França, que terminou com a vitória dos espanhóis por 2-0, de resto a estreia da tecnologia em jogos de seleções. A utilização do sistema não só anulou aquele que seria o golo inaugural da partida, por fora de jogo do jogador francês, como ainda validou o golo de Deulofeu, anteriormente anulado por suposta posição irregular. Ou seja, o que poderia terminar 1-1 acabou por ficar 2-0.
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