Não é novidade, no futebol português, mas o início da temporada 2023/24 está a ser particularmente pródigo em casos (alguns deles até insólitos), polémicas, discussões e trocas de palavras. Desde a Supertaça, entre Benfica e FC Porto. No centro de grande parte deles está, como sempre, a arbitragem. E até o VAR, criado para ajudar, não tem neste arranque de época funcionado a 100 por cento, contribuindo ainda mais para aquecer os ânimos.

A juntar a isso, a indicação para que o tempo de compensação fosse melhor ajustado ao tempo perdido durante os jogos, levou a que os descontos concedidos pelos árbitros durante os jogos passassem a ser maiores. Têm sido muitos os golos marcados para lá do minuto 90 e muitas as críticas não têm faltado. Como não têm faltado as trocas de comunicados e acusações entre os principais clubes.

Ao fim de quatro jornadas, e à entrada para a primeira paragem para os compromissos das seleções, resumimos as principais polémicas verificadas até à data.

Supertaça deu o mote, com Conceição a recusar sair do banco

A temporada 2023/24 arrancou oficialmente com o embate entre o campeão nacional, Benfica, e o detentor da Taça de Portugal, FC Porto, para a Supertaça, em Aveiro. E quem esperava que os clubes dessem o exemplo para  uma temporada que se queria tranquila, cedo percebeu que assim não seria.

À medida que o jogo foi avançando, que os minutos foram passando e que os golos aconteceram, surgiram os habituais protestos, as desavenças entre jogadores, as queixas, as entradas mais duras, as discussões. Estava dado o mote para a primeira grande confusão da época...logo ao primeiro jogo.

Com o Benfica a vencer por 2-0 e o FC Porto a tentar o tudo por tudo para inverter o rumo dos acontecimentos, Pepe tocou de forma mais violenta com o joelho em Jurásek num lance junto à linha lateral. Recorrendo ao VAR, o árbitro Luís Godinho exibiu o cartão vermelho ao defesa central dos dragões que, enquanto saída do relvado, tirou a camisola e exibiu-a na direção dos adeptos do Benfica, em jeito de provocação.

Um rastilho para a grande confusão que se iria seguir. Pouco depois, na sequência de um golo anulado ao FC Porto, Sérgio Conceição dirigiu algumas palavras ao juiz da partida e recebeu, também ele, ordem de expulsão. Só que o treinador dos azuis e brancos recusou-se durante largos minutos a abandonar o banco de suplentes. Nem as palavras do seu capitão, Ivan Marcano, o convenceram e até os agentes policiais presentes no estádio se chegaram a dirigir para a zona antes de Conceição - relutante - subir para as bancadas.

Portuguese Super Cup - Benfica vs FC Porto
créditos: AFP

Confusão em Braga, expulsão de Musa e tempo de descontos em Alvalade deram que falar na 1.ª jornada

O campeonato começou poucos dias depois e as polémicas prosseguiram.Logo no primeiro jogo - um dérbi minhoto entre SC Braga e Famalicão - houve confusão e agressões na bancada e uma acesa troca de palavras entre o banco do Famalicão e os adeptos.

Depois, no primeiro jogo a envolver um dos três grandes, o Sporting parecia caminhar para um triunfo tranquilo sobre o Vizela em Alvalade, mas deixou-se empatar à entrada para o quarto de hora final. Num encontro com inúmeras paragens para assistência a jogadores da equipa visitante, o árbitro concedeu oito minutos de compensação.

Seguindo as indicações do International Board, a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol já tinha alertado para que esta temporada os jogos teriam mais mais descontos e assim está a ser. O primeiro caso a saltar à vista foi o embate entre Sporting e Vizela, com os leões a aproveitarem para chegar à vitória mesmo no último desses oito minutos extra, perante algumas críticas de quem achou exagerada a compensação concedida pelo árbitro.

A ronda fechou com a visita do Benfica ao Bessa, da qual as águias sairiam derrotadas. A vencerem por 1-0, os atuais campeões nacionais viram-se reduzidos a dez jogadores devido a uma expulsão de Musa que levantou dúvidas e acabaram derrotados num jogo com vários outros lances outros polémicos a suscitarem críticas à arbitragem por parte dos encarnados. O tempo de compensação, esse, superou os dez minutos.

Musa abandona o relvado depois de ser expulso
Musa abandona o relvado depois de ser expulso créditos: © 2023 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

VAR erra, Conselho de Arbitragem assume erro de imediato e polémicas continuaram na 2.ª jornada

A segunda jornada começou por ficar marcada por um erro de análise do VAR logo no terceiro minuto da visita do Sporting ao terreno do Casa Pia. Paulinho marcou para os leões, o golo foi validado pelo árbitro em campo e confirmado pelo videoárbitro, mas o lance foi mal avaliado, com as linhas do posicionamento dos jogadores a serem colocadas de forma errada.

Mal o jogo terminou, e numa ação raramente vista, o Conselho de Arbitragem assumiu em comunicado o "erro na colocação do ponto que define a linha de fora de jogo" no tal lance do golo de Paulinho. "Ao invés de ser colocado no pé do avançado do Sporting, foi no ombro o que conduziu a um erro de análise. O golo não devia ter sido validado uma vez que o jogador encontrava-se fora de jogo por nove centímetros", reconheceu, lamentando o sucedido e informando que a equipa de videoarbitragem do jogo ficaria fora das nomeações por tempo indeterminado. As críticas vieram de todos os quadrantes.

Depois, na Luz, o Benfica venceu com alguma dificuldade o Estrela da Amadora e houve quem questionasse a não expulsão de João Neves num lance em que pisa um adversário, antes de o FC Porto entrar em campo para, com muitas dificuldades, acabar por vencer o Farense. O golo da vitória dos dragões surgiu ao décimo minuto de compensação dos 12 concedidos pelo árbitro da partida e, uma vez mais, o tempo de descontos foi questionado.

Disparidade de critérios questionada e outra vez os descontos em causa na 3.ª jornada

O campeonato prosseguiu, e as polémicas também. À terceira jornada, em Alvalade o Sporting venceu o Famalicão por 1-0 e os rivais dos verdes e brancos ficaram a pedir a expulsão de Gyokeres num lance em que o sueco só viu o cartão amarelo, a meio da primeira parte.

Já o Benfica foi a Barcelos somar uma suada vitória por 3-2 que se começou a desenhar com uma grande penalidade assinalada sobre João Mário bastante questionada pelos adversários.

Mas o encontro mais polémico teve lugar em Vila do Conde, onde o FC Porto voltou a vencer graças a um golo (desta feita até foram dois) no período de descontos, dando a volta ao resultado para somar um triunfo por 2-1. Com os azuis e brancos a perderem por 1-0 perto do minuto 90, o árbitro assinalou uma grande penalidade a castigar falta sobre Gonçalo Borges, decisão confirmada pelo VAR ainda que na transmissão televisiva não tenha sido exibida uma imagem esclarecedora do lance.

Galeno converteu o consequente castigo máximo já dentro dos dez minutos de compensação concedidos pelo juiz do encontro e aos 90+5' Marcano apontou o golo da vitória do FC Porto. Antes, ainda na primeira parte, Stpehan Eustáquio teve duas entradas fora de tempo sobre adversários, muito questionadas pelos rivais, em virtude da dualidade de critérios em relação a outros lances.

O Sporting chegou mesmo a emitir um comunicado, questionando essa dualidade de critérios e o facto de o Conselho de Arbitragem, que na ronda anterior tinha sido tão rápido a emitir um comunicado a reconhecer o erro a favor dos leões ter, desta feita, permanecido em silêncio.

4.ª jornada trouxe mais do mesmo e até ao telefone o árbitro falou no Estádio do Dragão

E eis que chegamos à 4.ª jornada, e aos caricatos acontecimentos do encontro de domingo entre FC Porto e Arouca no Estádio do Dragão. Horas antes, na Segunda Liga, o VAR tinha voltado a falhar - reconhecendo depois o erro - em mais uma análise de um fora de jogo. Um mau prenúncio.

No Dragão, pouco depois de os arouquenses ganharem vantagem, o árbitro da partida, Miguel Nogueira, assinala uma grande penalidade a castigar falta sobre Taremi, mas é chamado a rever as imagens.

Porém, não havia conexão com a cidade do futebol e não foi possível ao juiz da partida ver as imagens no campo. A solução, insólita, foi falar ao telefone com a equipa de videoarbitragem, a qual explicou a Miguel Nogueira que, em seu entender, não havia motivos para a marcação do penálti. O árbitro, sem ver as imagens, confiou na opinião dos colegas e reverteu a decisão, chamando os responsáveis técnicos das duas equipas para a explicar. "O árbitro disse que a indicação que tinha é de que não era penálti e tinha que acreditar no VAR. Disse ainda que não era uma decisão fácil para ele, mas que iria seguir o VAR porque as imagens tinham sido analisadas na Cidade do Futebol, em Oeiras", explicou o treinador do Arouca, Daniel Ramos.

Miguel Nogueira à conversa com o VAR...por telefone
Miguel Nogueira à conversa com o VAR...por telefone

Os dragões, contudo, dizem que Miguel Nogueira não podia reverter a sua decisão inicial sem rever as imagens e, por essa razão, o FC Porto informou que vai avançar com um protesto com vista à repetição do encontro. "A ação de Miguel Nogueira constitui uma violação das regras de jogo e um erro de direito com potencial impacto grave no desfecho do encontro", defendem os azuis e brancos.

Mas a polémica não se ficou por aí. Se o tempo de compensação já se adivinhava longo, ficou ainda maior com a tal chamada telefónica em cima do minuto 90. O quarto árbitro levantou a placa a informar que seriam 17 os minutos de desconto e aos 14 Miguel Nogueira assinalou nova grande penalidade sobre Taremi, desta feita a valer. Perderam-se mais alguns minutos na análise do lance e o tempo de compensação estendeu-se. O FC Porto acabou mesmo por chegar ao empate - em mais um lance muito questionado pelos rivais, por eventual fora de jogo - ao 19.º minuto para lá dos 90 e o jogo estendeu-se até aos 23 minutos de desconto.

Mal o encontro terminou, foi a vez de o Benfica emitir um comunicado, questionando também ele a dualidade de critérios em comparação com os seus jogos e o elevado tempo de compensação que se tem vindo a verificar nos jogos do FC Porto esta época.

Já esta segunda-feira, o Conselho de Arbitragem explicou, em mais um comunicado, o que se passou afinal no Estádio do Dragão.

O Conselho de Arbitragem confirmou a falha de comunicações e vídeo na área de revisão do árbitro e o recurso, face a essa falha, a "um equipamento móvel -- disponível em todos os estádios - a fim de comunicar com o Centro de videoarbitragem, na Cidade no Futebol". A razão para o problema? A única tomada elétrica disponível na área de revisão do estádio não tinha corrente elétrica e a bateria esgotou-se.

Apesar de todas estas polémicas, o Conselho de Arbitragem sublinha, a fechar: "O VAR foi introduzido em Portugal em maio de 2017 e o tempo de funcionamento sem quebras do serviço é de 99,8%".