Os Mundiais da ISA (Associação Internacional de Surf) são um dos eventos de qualificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. A edição de 2019 disponibilizou quatro vagas, que foram destinadas aos melhores representantes da África, Ásia, Europa e Oceania na competição na praia de Kisakihama, em Miyazaki, no Japão, sendo que o português Frederico Morais conseguiu um lugar na categoria europeia.

Italo Ferreira, surfista brasileiro de 25 anos, atual sexto classificado no ranking do campeonato mundial, ultrapassou todos os obstáculos para conseguir entrar na água e vencer a prova de qualificação, um feito que o deixa mais perto de um lugar nos Jogos Olímpicos de 2020.

A incrível história foi contada pelo próprio, num texto publicado na sua conta oficial do Instagram. Leia que vale muito a pena.

“Fui roubado 4 dias atrás, nos Estados Unidos. Na minha mochila, que eles levaram, tinha alguns pertences pessoais e o documento mais importante para uma pessoa que está viajando e nem sabe falar perfeitamente a língua local: o passaporte. Este era eu. Sem saber pra onde ir, sendo que no mesmo dia eu tinha um voo marcado para o Japão para competir em um evento mundial essencial na busca por uma vaga nas olimpíadas de 2020, em Tokyo”.

“No dia seguinte ao roubo, tive ajuda de algumas pessoas do Brasil, Estados Unidos e até mesmo do Japão. (…) Todas as informações diziam que o melhor era eu sair dos Estados Unidos para refazer tudo (marcar horário, agendar entrevista, etc) no consulado americano. Então saí dos Estados Unidos no dia 08 de setembro e embarquei para Tokyo, com entrevista marcada para o dia seguinte, 09.”

“Parecia tudo normal, mas MEU VOO ATRASOU POR CAUSA DE UM FURACÃO - inclusive, fiquei 18 horas dentro do avião. Ou seja, eu não teria como chegar a tempo para a entrevista no consulado no Japão. Então remarquei para as 8:30 do dia 10 de setembro, primeiro dia da competição, sem ter certeza de que o visto seria aprovado.”

“Eu estava confiante e feliz, mesmo depois de tudo, só por ter chegado até o Japão. O visto foi aprovado, deixei meu passaporte no consulado americano e comecei mais uma missão. Fui correndo para o Aeroporto de Tóquio em busca do primeiro voo para a cidade onde eu iria competir. Minha bateria era a 6ª do Round 1, mas o evento atrasou 1 hora e isso me deu uma pequena chance de chegar a ‘tempo’. Quando pousei no aeroporto, saí correndo: larguei as malas e fui direto para o carro do comitê brasileiro que estava a minha espera. Minha bateria já tinha começado e demoramos 10 minutos do aeroporto até a praia.”

“Chegando no palanque, faltavam 9 minutos pra minha bateria acabar. Entrei na água com a última prioridade, prancha emprestada e precisando de uma combinação de 12 pontos pra avançar.”

Com a prancha emprestado pelo também brasileiro Felipe Toledo (abandonou a prova por dores nas costas), atual líder do campeonato mundial, Italo Ferreira enfrentou as más condições do mar e ainda conseguiu uma nota 10 na final que muito ajudou a conquistar o torneio. O bicampeão mundial Gabriel Medina ficou com o bronze, e o norte-americano Kolohe Andino foi o segundo colocado.

Confira as pontuações:

Ítalo Ferreira (BRA): 17,77
Kolohe Andino (EUA): 17,06
Gabriel Medina (BRA): 14,53

A medalha de ouro não dá acesso direto aos Jogos Olímpicos [veja as regras de qualificação] e é por isso que Italo Ferreira “tinha de estar no Japão senão perdia a chance de de tornar ilegível à vaga”.

O Brasil conquistou ainda o ouro na categoria por seleções, por acumulação de pontos dos surfistas representados.

Os dez primeiros classificados do ranking do campeonato mundial de surf terão entrada direta nos Jogos Olímpicos de Tóquio, os restantes serão conhecidos através deste sistema de qualificação de Mundiais, sendo que no total serão 20 surfistas - masculinos - e o país anfitrião, o Japão, tem um lugar garantido. Existem ainda mais 20 vagas para surfistas femininas.