Para Portugal era a feijões, para os coreanos era de vida ou de morte. E nestes estados de espírito diferentes, venceu quem teve mais vontade. Portugal acaba por perder o único jogo que não precisava de vencer neste Mundial, mas garantiu o 1.º lugar do Grupo H e vai medir forças com a Suíça, segunda colocada do Grupo G, nos oitavos de final.

O jogo está marcado para às 19h00 da próxima terça-feira.

Veja as melhores imagens do jogo.

Derrota para acordar

Se havia jogo que Portugal podia perder neste Mundial2022, era este com a Coreia do Sul. A derrota dificilmente tiraria Portugal do 1.º lugar até porque seria preciso que o Gana goleasse o Uruguai e Portugal perdesse por mais do que um golo (os africanos teriam de anular uma desvantagem de três golos) para não garantir o primeiro posto, que dará para fugir ao Brasil nos oitavos de final.

A derrota explica-se por aquilo que Portugal não fez mas, diga-se, é também mérito da Coreia do Sul, que lutou com as suas armas e nunca desistiu de procurar o tão golo que lhe colocasse na próxima fase.

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Quando um passe de 40 metros de Pepe encontrou Diogo Dalot sozinho na direita, Portugal parecia ter encontrado o caminho para desbloquear o jogo e tê-lo a seu favor. Os sul-coreanos de Paulo Bento (na bancada, a cumprir castigo), colocavam muitos jogadores na zona central, iam com tudo na dividida e pressionavam sem parar o portador da bola, fazendo com que fosse impossível entrar por aí.

Esse fantástico passe de Pepe e a boa decisão de Dalot - receção, progressão, finta, temporização e passe na hora certa - encontraram Ricardo Horta para o 1-0 logo aos seis minutos.

Mais do que o golo, Portugal tinha encontrado uma fórmula de bater as defesas neste Mundial, tirando partido dos seus laterais projetados a dar largura e profundidade. Esse aspeto do jogo tem faltado com João Cancelo, Nuno Mendes teria essa capacidade, mas lesionou-se e Raphael Guerreiro é um lateral que prefere zonas interiores e não tanto a linha.

Mas era preciso repetir mais vezes o gesto e não comprometer atrás. Cristiano Ronaldo, que pouco ou nada estava a ajudar na frente, resolveu também atrapalhar atrás (não é a primeira vez que compromete nas bolas paradas defensivas): não quis nada com a bola num canto, Young-Gwon Kim agradeceu e deu esperanças à seleção de Paulo Bento, nas bancadas a sofrer.

O golo da Coreia era também o espírito de Portugal no jogo. Passivo, lento, previsível e pouco ambicioso. É que minutos antes, também num canto, a defensiva portuguesa tinha ficado a 'dormir', num lance que acabou dentro da baliza após defesa de Diogo Costa, mas que só não deu golo por fora de jogo.

Depois, foi ficar a ver o tempo passar, com uma ou outra jogada ofensiva de destaque, mas quase nunca com a vontade de quem queria ganhar o jogo. E essa pouca vontade ficou mais uma vez patente no golo da vitória dos coreanos: canto a favor de Portugal, asiáticos a sair em contra-ataque de dois contra cinco e nenhum jogador português foi capaz de fazer falta ou tirar a bola a Son. O passe do jogador do Tottenham é bom, o remate de Hwang Hee-Chan (companheiro de José Sá, Rúben Neves, Matheus Nunes no Wolverhampton) para o golo é fantástico.

Apuramento merecido de quem mostrou mais vontade em ganhar.

Já Portugal, espera-se que tenha aprendido a lição: agora só resta vencer porque perder é dizer Adeus.

Momento-chave: transformar um ‘dois contra cinco’ em golo é de louvar

Numa altura em que na Seleção de Portugal já era cada um por si e os coreanos tentavam resistir com todas as armas (muitos jogadores a pedirem assistências, com problemas físicos), Heung-min Son 'ligou a mota' à saída da área de Portugal, correu que nem um desalmado, aguentou tudo o que era carga antes de servir Hwang Hee-Chan para o golo da vitória e consequente apuramento.

Os Melhores: Son apareceu, Dalot pede lugar no onze e Vitinha... é banco porquê?

Além do passe para o golo, Diogo Dalot mostrou que é uma boa alternativa na lateral direita, se Portugal continuar a jogar com muita gente por dentro. O lateral solta-se na lateral, abre e recebe só para progredir e desequilibrar. Com Cancelo tão apagado nos três jogos já realizados, colocar o lateral do City na esquerda (onde tem rendido muito no seu clube) e Dalot na direita, é uma opção a considerar.

Vitinha somou os primeiros minutos neste Mundial2022 e a pergunta que fica é: O que anda a fazer o médio do PSG no banco de Portugal? Jogamos assim tão bem para o seu futebol não se enquadrar nesta equipa? Se depois da exibição desta sexta-feira não ganhar um lugar no onze, Fernando Santos terá de dar explicações.

Heung-min Son tarda em aparecer na Coreia do Sul, mas, quando aparece, faz estragos. O avançado sente o peso de uma nação dos seus ombros e precisa de ajuda para libertar o seu talento. Heung-min Son, que parece estar finalmente de volta após problemas físicos, apareceu na hora certa.

Em tarde 'não': Quais os argumentos para ter Cristiano Ronaldo no onze?

É ponto assente que Fernando Santos, nunca em circunstância alguma, irá deixar Cristiano Ronaldo no banco, estando o jogador apto fisicamente. Este seria o jogo ideal para faze-lo descansar porque os seus 37 anos já pesam. Mas a ânsia de ajudar o capitão a chegar aos nove golos em Mundiais e igualar o recorde de Eusébio está a roubar discernimento ao jogador e a perturbar o modo como Portugal quer atacar.

Mundial2022: Coreia do Sul 2-1 Portugal
Mundial2022: Coreia do Sul 2-1 Portugal Cristiano Ronaldo cabeceia para fora créditos: PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP)

Cristiano Ronaldo saiu aos 65 minutos chateado, frustrado por não marcar, e vai entrar nos oitavos de final com a mesma frustração de quem pensa primeiro em si e depois na equipa. E foram vários os exemplos disso ao longo do jogo, como aconteceu quando, isolado e com João Mário ao lado, sozinho, preferiu rematar em queda do que passar a bola (estava em fora de jogo); ou quando rematou quase sem ângulo num lance em que tinha Ricardo Horta e João Mário na área; ou quando fica a reclamar com os colegas por estes decidirem rematar e não lhe passar a bola.

Cristiano Ronaldo tem de entender que não tem de fazer todos os remates de Portugal, nem marcar todos os golos da sua equipa. Partindo do princípio que Fernando Santos nunca terá coragem de o tirar do onze, seria bom que o capitão começasse a olhar para e equipa e esquecer os seus recordes. Porque agora é o 'mata-mata' e quem perde, 'morre'.

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