Bruno de Carvalho marcou uma conferência de imprensa onde deu conta de mais uma rescisão no Sporting. O presidente lamenta que o clube tenha passado por esta situação. Esta segunda-feira, Bruno Fernandes, Gelson Martins, William Carvalho, Bas Dost, apresentaram a sua carta de rescisão com justa causa, juntando-se assim a Podence e Rui Patrício.

"Mais um dia difícil para a família sportinguista. Não que esta situação não estivesse pensada, porque infelizmente o Sporting está a viver uma altura onde há um ataque concertado muito grande. Não são só três, são quatro cartas [de rescisão] que chegaram", confirmou.

"Lamentamos mais uma vez que o Sporting esteja a passar por uma situação destas, a viver um período onde todos vivemos uma situação de dúvida, de incerteza, de angústia. Não é este o desígnio desta direção mas chegamos a um ponto onde temos de tomar decisões. O que está aqui nestas cinco cartas, a sexta imagino que seja igual, não há qualquer fundamento a nível de justa causa. Não somos maluquinhos, sabemos o que estamos a fazer. Se por um acontecimento hediondo fosse possível rescindir, nenhum clube do mundo ia contratar porque com facilidade se pode colocar pessoas numa academia e alegar-se não haver condições psicológicas para continuar no clube. Tudo isto mudava o paradigma do futebol mundial", disse o líder leonino.

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"Queremos dizer que se os seis atletas que rescindiram - e mais poderão acontecer até dia 15, numa estratégia de desgaste. Se o problema é este CD, então basta escreveram uma carta à SAD dizendo que esta direção se demitir voltam atrás com as rescisões e jogam no Sporting, e uma segunda coisa é se voltarmos a ganhar em eleições que continuam a valer essas premissas. Basta essa carta dos seis e nós na mesma hora nos demitimos. Uma carta em que digam dois pontos: que se nos demitirmos que voltam atrás com as rescisões; que se nos candidatarmos e ganharmos continuam a valer essas premissas", acrescentou.

Ao mesmo tempo, o líder leonino desafiou os jogadores a escreverem uma carta onde assumem voltar atrás nas rescisões se a direção do clube se demitir.

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"Ao mesmo tempo que temos cartas de rescisão, temos a comunicação social a dizer que se este CD se for embora os jogadores voltam atrás. Por isso, queremos dizer que se os seis atletas que rescindiram - e mais poderão acontecer até dia 15, numa estratégia de desgaste. Se o problema é este CD, então basta escreveram uma carta à SAD dizendo que esta direção se demitir voltam atrás com as rescisões e jogam no Sporting, e uma segunda coisa é se voltarmos a ganhar em eleições que continuam a valer essas premissas. Basta essa carta dos seis e nós na mesma hora nos demitimos. Uma carta em que digam dois pontos: que se nos demitirmos que voltam atrás com as rescisões; que se nos candidatarmos e ganharmos continuam a valer essas premissas", frisou.

Mas as cartas de rescisão não devem parar por aqui. Pelo menos é essa a convicção de Bruno de Carvalho.

"Continuamos a acreditar no que fazemos e por isso cá estaremos, alertando os sportinguistas que isto não pode ser um drama sempre que acontecer. A informação que temos é que acontecerá mais até dia 15. Por isso as pessoas têm de ver isto como um tudo. Venham cá para fazer a AG destitutiva ou os jogadores que apresentaram rescisão apresentem a carta naqueles moldes", atirou.

Na mesma conferência, Bruno de Carvalho ameaçou dizer tudo o que sabe sobre os jogadores que já entregaram as cartas de rescisão.

"Se nos formos embora o futebol muda de paradigma. Se isto são causas por justa então é melhor o futebol mudar completamente. Se saírmos, que tipo de liderança teria o próximo presidente. Iria gerir sob medo, sob pressão? Nao, os jogadores voltaram atrás e ele vendia-os. E se quisesse esses jogador ir embora fazia o mesmo e o Sporting não saía disto. O mais fácil era apresentarmos a demissão mas o Sporting perdia tudo o que conquistou em cinco anos, pois quem mandava no clube seriam agentes e advogados. Não quero meter os jogadores nisto. Na altura certa direi o que sei sobre cada um deles. O que traria de bom a nossa saída?", perguntou.

Na mesma conferência, Bruno de Carvalho falou do risco de insolvência da SAD.

"O xeque-mate é exatamente esse, é colocar a dúvida nos sportinguistas se haverá clube ou não. Utilizar os jogadores para isto é inédito no futebol português. Não está a ser benéfico para as contas do Sporting. Por muito resistentes que sejamos, temos de dar as duas alternativas possíveis aos associados e aos ativos que passaram a querer gerir o clube. Uma será pela AG e não será por dez dias que o Sporting sofrerá mais. Outra será pelas cartas. Voltarmos as costas ao Sporting neste momento resolvia o quê? Vender um jogador por dez milhões resolvia algo no momento. Mas isso seria como antigamente, em que se vendia jogadores para pagar ordenados. É isso que querem? Voltar a esse momento?", perguntou, garantindo que não chegaram propostas pelos jogadores que rescindiram por justa causa.

Todo este ambiente está a ter implicações nas contas da SAD. Bruno de Carvalho tem noção disso mas diz que não vai contratar nem vender jogadores até a Assembleia-Geral do clube.

"Não chegou nenhuma proposta por William, Gelson, Podence e Bruno Fernandes. Houve conversas mas não vi formalização, parece-me, pelo Rui Patrício. Mas temos lido que o Sporting recusou proposta do Gelson... Até dia 15 não renovamos nem vendemos nenhum jogador previsto. Isto é salvaguardar o património do Sporting. Se acharem o contrário, os serviços estão abertos e é fazer a AG destitutiva, ou então quem está por trás disto é fazer um documento e nós demitimo-nos amanhã."

Recorde-se que que o prazo legal para as rescisões por justa causa termina esta quinta-feira, 30 dias após as agressões em Alcochete (15 de maio), que estará na base destes pedidos de rescisão.

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A crise no Sporting teve origem na perda do segundo lugar do campeonato, na última jornada, para o Benfica e acentuou-se dias depois, em 15 de maio, quando cerca de 40 pessoas encapuzadas invadiram a Academia do Sporting, em Alcochete, e agrediram alguns futebolistas e elementos da equipa técnica, com a GNR a deter 27 dos atacantes, que ficaram em prisão preventiva.

Entre estes detidos, que ficaram em prisão preventiva, estão Fernando Mendes, ex-líder de claque Juventude Leonina, e o condutor do BMW azul que no dia das agressões entrou nas instalações da Academia do Sporting em Alcochete e retirou alguns dos alegados agressores.

Na sequência destes incidentes, os futebolistas Rui Patrício e Daniel Podence apresentaram a rescisão por justa causa, enquanto o treinador Jorge Jesus rescindiu por mútuo acordo para assinar pelos árabes do Al Hilal. Bruno de Carvalho anunciado inclusivamente que avançou com processos crime contra ambos os jogadores.

No âmbito de uma investigação do Ministério Público sobre alegados atos de tentativa de viciação de resultados em jogos de andebol e futebol, tendo como objetivo o favorecimento do Sporting, foram constituídos sete arguidos, incluindo o 'team manager' do clube, André Geraldes.

Na sequência destes acontecimentos, a maioria dos membros da Mesa da Assembleia Geral (MAG) e do Conselho Fiscal e Disciplinar (CFD) e parte da direção apresentaram a sua demissão, defendendo que o presidente Bruno de Carvalho não tinha condições para permanecer no cargo.

Após duas reuniões dos órgãos sociais, o presidente demissionário da MAG, Jaime Marta Soares, marcou uma Assembleia Geral para votar a destituição do Conselho Diretivo (CD), para 23 de junho – sobre a qual foi interposta uma providência cautelar para a sua realização pela MAG que foi indeferida liminarmente pelo Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa - e criou uma comissão de fiscalização para evitar o vazio provocado pela demissão da maioria dos elementos do CFD.

O CD do Sporting decidiu substituir a MAG e respetivo presidente através da criação de uma Comissão Transitória da MAG, que, por sua vez, convocou uma Assembleia Geral Ordinária para o dia 17 de junho, para aprovação do Orçamento da época 2018/19, análise da situação do clube e para esclarecimento aos sócios e convocar uma Assembleia Geral Eleitoral para a MAG e para o CFD para o dia 21 de julho.