Sérgio Conceição comentou pela primeira o caso Marega, jogador do FC Porto que abandonou o relvado no D. Afonso Henriques no passado domingo, depois de ser vítima de insultos racistas. O técnico do FC Porto falhou a flash interview e também a conferência de imprensa, pelo que só esta quarta-feira, na antevisão do jogo com o Bayer Leverkusen, comentou o caso.

Na altura em que Marega decidiu que tinha de sair por não ter condições para continuar, gerou-se uma enorme confusão, com alguns jogadores do FC Porto e do Vitória de Guimarães a tentarem demover o maliano na sua decisão. O próprio Sérgio Conceição falou com o jogador mas não conseguiu travar Marega. Os 'dragões' tiveram de 'queimar' uma substituição, fazendo entrar Manafá para o lugar do avançado maliano.

"Aqui ninguém dá lições de moral a ninguém, temos um balneário muito unido, muito coeso, com todos a remar para todo o lado, somos uma família. No final do jogo não interessa a nacionalidade, cor da pele, altura ou cor do cabelo. É exatamente igual, somos uma família", começou por dizer.

"Pergunto quantos treinadores e jogadores sabem dos regulamentos e o que fazer numa situação que foi única em Portugal? Quando vamos para o banco, levamos um caderno com esquemas táticos, não levamos um caderno com os regulamentos. Na altura não sabíamos o que fazer. O que fizemos logo foi acalmar e estar com o Moussa Marega, isso é que é importante. Estamos e continuamos a estar", explicou Conceição, antes de finalizar.

"Não me vou alongar mais num tema que me enoja".

O técnico lamentou a ausência de "união na crítica ao racismo", considerando isso mais importante do que a atitude do FC Porto no jogo em Guimarães após os insultos a Marega.

"Pior do que entrar ou sair este ou aquele jogador é não haver consenso e união na crítica ao racismo. Isso é que é importante”, sublinhou, quando confrontado com as palavras do treinador do Bayer Leverkusen, adversário de quinta-feira na Liga Europa, que disse que a sua equipa teria abandonado o campo em situação idêntica.

Este domingo, Marega foi substituído ao minuto 71 do jogo da 21.ª jornada da I Liga, entre o FC Porto e o Vitória de Guimarães, depois de ter sido alvo de cânticos e gritos racistas por parte de adeptos da equipa minhota.

Vários jogadores do FC Porto e do Vitória de Guimarães tentaram demovê-lo, mas Marega mostrou-se irredutível na decisão de abandonar o jogo, numa altura em que os 'dragões' venciam por 2-1, resultado com que terminou o encontro. O emblema minhoto pode ser punido com um a três jogos a porta fechada, de acordo o Regulamento Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) sobre atos que “promovam, consintam ou tolerem” comportamentos racistas.

O artigo 113.º do regulamento em vigor define as sanções a “comportamentos discriminatórios em função da raça, religião ou ideologia”.

A caso ganhou contornos internacionais e foi notícia lá fora, sendo noticiado em várias televisões mas também em jornais online.

Em Portugal, vários clubes mostraram a sua solidariedade para com Moussa Marega, entre eles o Rio Ave, o Sporting, o SC Braga.

O caso extravassou o futebol e foi comentado por vários quadrantes políticos, quase todos a reprovarem os insultos racistas contra o maliano.

Marega não foi ato isolado: recorde outras ocasiões em que o racismo 'invadiu' o desporto português
Marega não foi ato isolado: recorde outras ocasiões em que o racismo 'invadiu' o desporto português
Ver artigo

Dirigentes e deputados de vários partidos, incluindo os líderes do CDS-PP, da Iniciativa Liberal comentaram na redes sociais condenando os insultos dirigidos ao jogador Marega, do FC Porto.

O primeiro-ministro manifestou também a sua "solidariedade" com Marega e o "repúdio total" por atos racistas contra o futebolista do FC Porto, esperando que "as autoridades ajam como lhes compete" para impedir que voltem a acontecer. Antes, o secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, tinha repudiado os insultos racistas de que foi vítima Marega, salientando que estes atos atentam contra a Constituição e devem ter consequências. Já o Secretário de Estado do Desporto e da Juventude, João Paulo Rebelo, em entrevista à RTP, elogiou a decisão do maliano em abandonar o terreno de jogo.

O Bloco de Esquerda (BE) quer saber que medidas concretas vai o Governo tomar na sequência dos insultos racistas de que foi alvo o jogador do FC Porto Marega durante um encontro no domingo com o Vitória de Guimarães. Em comunicado, o BE dirige algumas perguntas ao Ministério da Educação e, em concreto, à secretaria de Estado do Desporto e da Juventude, e presta a sua solidariedade para com Moussa Marega e para com “todos os que não desistem de fazer da prática desportiva uma casa da igualdade”.

Os três passos que os árbitros podem tomar no caso de comportamentos racistas
Os três passos que os árbitros podem tomar no caso de comportamentos racistas
Ver artigo

O Presidente da República condenou, esta segunda-feira, os insultos racistas de que o jogador do FC Porto Marega foi alvo no domingo, lembrando que a Constituição da República é muito clara na condenação do racismo, xenofobia e discriminação. O Presidente da República sublinhou que só pode “condenar, como sempre, veementemente, todas as manifestações racistas, quaisquer que sejam”.

A associação SOS Racismo defendeu que os responsáveis pelos insultos racistas ao futebolista Moussa Marega devem ser "severamente punidos", considerando que o fenómeno tem que ser "enfrentado antes que se torne incontrolável". A SOS Racismo saúda a decisão de Marega abandonar o relvado, considerando que "era o que todos os presentes deviam ter feito", começando pela equipa de arbitragem.

O PCP pediu  a audição, no parlamento, do ministro da Administração Interna, secretário de Estado do Desporto e Liga de Clubes sobre "medidas a adotar" depois das "manifestações de racismo" contra o futebolista Marega.

Opinião diferente teve André Ventura, deputado e líder do partido CHEGA, que desvalorizou o caso, e disse que as reações eram eram "o síndrome Joacine que começa a invadir as mentalidades".

Balotelli, Aubameyang, Lukaku, Koulibaly: Casos de racismo no futebol foram-se multiplicando ao longo dos anos
Balotelli, Aubameyang, Lukaku, Koulibaly: Casos de racismo no futebol foram-se multiplicando ao longo dos anos
Ver artigo

A PSP está a tentar identificar os adeptos suspeitos de dirigirem palavras e gestos racistas e xenófobos a Marega, do FC Porto, cometendo assim infrações criminais e contraordenacionais, informou hoje a direção da PSP. A PSP sublinha que o comportamento dos adeptos suspeitos configura um crime previsto e punido no Código Penal com pena de prisão de seis meses a 5 anos. Além da vertente criminal, a PSP acrescenta que tal comportamento de adeptos constitui contraordenação, pois “a prática de atos ou o incitamento à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espetáculos desportivos" pode ser punida com coima entre 1.000 e 10.000 euros.