"O campeonato está ferido de uma certa legalidade, porque para questões novas, como é o caso, novas questões têm de ser resolvidas. E quem tem de decidir são os clubes todos, os representantes dos jogadores, que são o mais importante e nem estiveram representados na reunião a três com o primeiro-ministro, mas também dos adeptos", disse José Neto à agência Lusa.

O Mestre em Psicologia do Desporto recusa falar numa decisão precipitada, até por desconhecer em rigor as orientações que suportam esta retoma, mas aponta "desfasamentos enormes" entre as novas condicionantes competitivas e as dinâmicas competitivas que o futebol exige.

"Se obrigarem a treinar em 20 metros de distância, quero ver, depois, como vão jogar. Não é possível! Quem não joga como treina, não joga, apenas pratica. Jogar implica outras condicionantes e a reorganização do tempo e espaço são muito importantes no treino de futebol. E treinar à distância não é treinar, apenas preparar", sublinhou.

José Neto elogia o cuidado dos clubes com a saúde física dos atletas nesta fase de confinamento, mas insiste que manter o foco só no perfil físico-atlético pode ser curto e não evita lesões, na medida em que "há um tempo de forma e uma pré-época, mas a pré-época com estas condicionantes não tem nada que ver com uma pré-época normal".

"A ideia que se fala de confinar equipas e jogadores numa determinada zona, devidamente preparada, seria um mal menor. O que importa é que todos tenham condições iguais e todos estejam de acordo", referiu, discordando dos jogos à porta fechada.

Segundo José Neto, "quase todas as equipas fazem do público o seu 12.º jogador", e deu mesmo o exemplo do Vitória de Guimarães, clube onde já trabalhou, assegurando que "o Vitória conseguiu muitas vezes ultrapassar a vertente competitiva através da força do seu público, que é único".

"Com o silêncio do estádio, o jogador entra muitas vezes mais relaxado, sente menos pressão na discussão do lance, por vezes poderá diminuir níveis de concentração e este vazio enorme poderá gerar um certo facilitismo. Além disso, um jogo sem público é um cartão vermelho ao futebol", concluiu.

O Governo definiu na quinta-feira, no plano de desconfinamento da pandemia de COVID-19, que a I Liga de futebol e a final da Taça de Portugal vão poder ser disputados, permitindo também desportos individuais ao ar livre.

A retoma da I Liga de futebol, a partir de 30 e 31 de maio, está sujeita a aprovação da Direção-Geral da Saúde (DGS) de um plano sanitário, anunciou o primeiro-ministro, explicando que os jogos vão realizar-se sem a presença de público nos estádios.

Faltam disputar 90 jogos do principal escalão, que é liderado pelo FC Porto, com um ponto de vantagem sobre o campeão Benfica, assim como a final da Taça de Portugal, que vai opor Benfica a FC Porto.