As palavras são de Gianni Infantino, presidente da FIFA, que na hora do balanço disse que o Mundial Feminino realizado na Austrália e Nova Zelândia foi mesmo a " maior e melhor edição de todos os tempos". O primeiro com 32 equipas, com prémios mais justos para as jogadoras e que certamente trará ainda mais novidades no futuro. Já se pode dizer que foi um verdadeiro sucesso a competição que se realizou entre os dias 20 de julho e 20 de agosto. Uma festa de luz, cor e muita animação nas bancadas, bem presente na galeria abaixo.

As protagonistas, essas, são as que perspetivam novos capítulos ainda mais brilhantes para a competição. "As pessoas pensam que sou maluca, mas acredito que o futebol feminino vai ser maior que o masculino", atirou a antiga capitão da Nova Zelândia Rebecca Smith em declarações à Al Jazzeera.

Ao longo de um mês o SAPO Desporto acompanhou a par e passo o Mundial. Pode rever e tirar todas as dúvidas no nosso especial.

Um vencedor inédito

Depois de 63 jogos, grandes golos e emocionantes decisões da marca de grande penalidade, a Espanha foi coroada Campeã do Mundo no estádio de Sidnei na Austrália.

Um golo, um golo apenas de Olga Carmona foi suficiente para bater a campeã europeia Inglaterra. Um remate forte, cruzado e colocado foi o suficiente para valer o cetro inédito às espanholas.

Carmona foi a heroína. No momento mais importante da carreira, nesse dia, também viveu um dos mais difíceis. A atleta dos merengues só foi informada do falecimento do pai depois de levantar a Taça e ser considerada a melhor jogadora em campo da final.

Uma das fotos da competição: Jenni Hermoso e Lionel Messi
Uma das fotos da competição: Jenni Hermoso e Lionel Messi créditos: Twitter @Jennihermoso

"Sem saber, tinha uma estrelinha antes de começar o jogo. Sei que me deste força para alcançar algo único. Sei que estiveste presente esta noite e que estás orgulhoso de mim. Descansa em paz, papá", escreveu Olga Carmona.

Jorge Vilda conseguiu guiar a seleção espanhola ao seu primeiro título mundial no futebol feminino sénior. Para a selecionadora inglesa Sarina Wiegman foi a segunda final seguida perdida.

A Espanha conquistou o seu primeiro Mundial à terceira participação na competição, depois de ter caído na fase de grupos em 2015 e nos oitavos de final em 2019.

Veja o vídeo da festa da Espanha

O último lugar do pódio do Mundial2023 ficou entregue à Suécia, que no sábado venceu por 2-0 a Austrália, uma das anfitriãs, no encontro de atribuição do terceiro e quarto lugares.

As melhores do torneio

A centrocampista Aitana Bonmatí foi eleita a melhor jogadora do Mundial, conquistado pela Espanha, numa final que contou mesmo com 75 mil espectadores em Sidnei.

A jogadora de 25 anos do Barcelona foi totalista em todos os jogos da Espanha e foi fulcral no plantel orientado pelo técnico Jorge Vilda.

A japonesa Hinata Miyazawa recebeu a Chuteira de Ouro do torneio como melhor marcadora com cinco golos marcados.

A guarda-redes britânica Mary Earps, que defendeu um penálti cobrado por Jennifer Hermoso na final, ficou com a Luva de Ouro, enquanto o prémio de melhor jogadora jovem foi para a atacante espanhola Salma Paralluelo

Factos importantes sobre a final

  • Mary Earps defendeu a grande penalidade de Jennifer Hermoso que poderia ter dado o segundo golo à Espanha
  • A Espanha venceu pela primeira vez o Mundial e junta-se aos campeões anteriores: Estados Unidos (1991, 1999, 2015, 2019), Noruega (1995), Alemanha (2003, 2007) e Japão (2011).
  • A Austrália, a jogar em casa, falhou a conquista da medalha de bronze depois da derrota frente à Suécia no sábado. Fridolina Rolfo e Kosovare Asllani marcaram os golos das suecas (2-0).

'Stop Putler': Adepto invadiu relvado na final do Mundial Feminino a pedir paz para a Ucrânia

A final entre a Inglaterra e a Espanha ficou também marcada por um momento em prol da paz na Ucrânia. Um adepto invadiu o relvado do Estádio Olímpico de Sidnei, durante a final do Mundial feminino, envergando uma bandeira do país que está em guerra com a Rússia. Além da bandeira de Ucrânia, usava uma camisola que tinha inscrita as palavras 'peace Ukraine' nas costas, e ainda uma imagem de Vladimir Putin, presidente da Rússia, estampada na parte da frente, com a frase, 'Stop Putler'. Uma comparação entre o líder russo e Adolf Hitler.

A polémica depois da alegria

Foi um dos momentos que fez estalar a polémica após a final do Mundial Feminino. Quando as jogadoras da Espanha percorriam o corredor para receber as medalhas depois de terem conquistado o Campeonato frente à seleção de Inglaterra, Rubiales abraçou a avançada Jenni Hermoso e deu-lhe um breve beijo na boca.

Veja o vídeo desse momento

Já no balneário, a jogadora do Pachuca abordou o sucedido num direto na rede social Instagram. "Eh, não gostei nada, eh", disse, entre risos.

No entanto, logo a seguir ao jogo a jogadora espanhola Jenni Hermoso saiu em defesa do presidente da Federação Espanhola de Futebol (RFEF). "Foi um gesto totalmente espontâneo e mútuo devido à alegria imensa que vencer um Campeonato do Mundo traz. O presidente e eu temos uma ótima relação, o comportamento dele connosco tem sido excelente e foi um gesto natural de afeto e gratidão. Um gesto de amizade e gratidão não pode ser tão criticado, ganhámos um Campeonato do Mundo e não nos vamos desviar do que é importante.", disse Hermoso, em comentários transmitidos à AFP pela federação espanhola.

Recorde-se que alguns episódios controversos marcaram a preparação da Espanha para o Campeonato do Mundo, a polémica envolveu a relação das jogadoras, não só com a federação espanhola, como também com o treinador Jorge Vilda.

Várias das principais figuras da equipa fizeram parte de um protesto de 15 jogadoras antes do torneio, exigindo a demissão do selecionador nacional, recusando-se a jogar por Espanha enquanto Jorge Vilda estivesse aos comandos da equipa. Na altura Luís Rubiales foi um forte defensor de Vilda e a RFEF foi criticada pela sua posição firme contra as 15 jogadoras que fizeram o protesto.

Depois de num primeiro momento não se ter arrependido do gesto, Luís Rubiales, voltou atrás e admitiu que errou ao beijar na boca a internacional Jenni Hermoso, num gesto sem consentimento e que foi amplamente criticado, com destaque para a ministra da defesa espanhola Margarida Robles que considerou o gesto absolutamente “inaceitável”.

Entretanto, num vídeo divulgado pela Federação, Rubiales reiterou que a situação ocorreu num dos dias mais felizes do futebol espanhol, contudo acabou por lamentar o gesto.

"Tenho de lamentar o que se passou entre uma jogadora e eu. Temos uma relação magnífica, à semelhança do que acontece com as outras, mas equivoquei-me. Tenho de o reconhecer, depois de um momento de máxima euforia, sem qualquer intenção má, sem má-fé, aconteceu o que aconteceu, de maneira muito espontânea, sem má-fé de nenhuma das partes", referiu.

O dirigente admitiu que terá que “aprender” com o que se passou, mas sem nunca abordar a questão do consentimento, focando-se no seu papel institucional e na imagem enquanto presidente da Federação. Para Rubiales, a situação deixou-o triste também por “manchar” um momento de grande felicidade, face ao maior sucesso da história da seleção feminina de futebol.

Mundial de surpresas

O Mundial acabou por ser palco para inúmeras surpresas. A seleção norte-americana, campeão Mundial em título, e que procurava o terceiro título consecutivo acabou por cair precocemente no Campeonato do Mundo.

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Após ultrapassar com alguma displicência o grupo onde estava inserido - juntamente com a seleção portuguesa, acabou por cair frente à Suécia nas grandes penalidades, por 5-2, equipa que acabaria por terminar no pódio do Campeonato do Mundo.

A eliminação do Brasil, ainda na fase de grupos, acabou por ser outras das surpresas da prova, depois das canarinhas terem empatado com a Jamaica (0-0), ficando na classificação atrás da Jamaica e da França.

Caíram também de forma prematura o Canadá e a Alemanha, equipas que eram claramente favoritas para chegaram aos oitavos de final da prova.

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A Alemanha, campeã do mundo em 2003 e 2007, caiu com um estrondo no fecho da fase de grupos, ao empatar 1-1 com a Coreia do Sul, abrindo caminho à qualificação para os ‘oitavos’ à Colômbia e à estreante seleção de Marrocos.

A Alemanha, que foi ainda finalista vencida no Mundial de 1995 e ocupa o segundo lugar do ranking da FIFA, nunca tinha sido eliminada antes dos quartos de final em todas as participações anteriores, desfecho dificilmente previsível quando goleou Marrocos por 6-0 na estreia.

A eliminação das germânicas, uma das maiores potências do futebol feminino, foi o culminar de um Campeonato do Mundo repleto de resultados que não se pensava que pudessem acontecer, a começar pelo jogo de abertura, no qual a coanfitriã Nova Zelândia bateu a sensacional Noruega, campeã em 1995, por 1-0. O Canadá, campeão olímpico em título, também foi superado pela coanfitriã Austrália e a Nigéria.

A surpresa maior até poderia ter vindo do lado português

Foi por alguns centímetros que Portugal não conseguiu a proeza de Marrocos, a única seleção das oito estreantes que conseguiu apurar-se para os oitavos de final da prova. As marroquinas acabaram por ser goleadas nessa fase pela França (4-0).

Mundial Feminino: Portugal 0-0 Estados Unidos
Foi este o onze de Portugal frente aos Estdos Unidos (Photo by Saeed KHAN / AFP) créditos: AFP or licensors

A equipa portuguesa acabou por cair de pé na primeira participação no Campeonato do Mundo feminino. No arranque da prova, Portugal acabou derrotado pela seleção dos Países Baixos, depois de um golo de Stefanie Van der Gragt.

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No segundo jogo, Portugal venceu o Vietname por 2-0 e conseguiu conquistar a primeira vitória de sempre em Mundiais. Telma Encarnação e Kika Nazareth marcaram os golos da primeira vitória de sempre num Mundial para a equipa nas quinas, na partida frente ao Vietname (2-0).

Ao terceiro jogo o sonho ficou tão perto.... As navegadoras levaram as campeãs do mundo em título até ao limite, e só o poste nos descontos impediu o desatar do nulo e a passagem à próxima fase da prova.

A equipa portuguesa superou-se, conseguiu em muitos momentos contrariar o favoritismo das adversárias, mas faltou eficácia para que o sonho da passagem à próxima fase se tornasse real. A tarefa era quase hercúlea, diga-se, quando Portugal tinha calhado no mesmo grupo que a campeã do mundo Estados Unidos e a campeão europeia, a seleção dos Países Baixos. Ainda assim, a equipa portuguesa saiu de cabeça erguida da prova, evitando a derrota pela primeira vez em onze embates com os EUA.

Nas contas do Grupo E, os Países Baixos (que acabaram por golear o Vietname ) terminaram no topo, com 7 pontos. Os Estados Unidos foram segundos, com 5, Portugal terceiro, com 4, e o Vietname foi último, com 0 pontos.

Os prémios atribuídos às jogadores num 'grito' a favor da equidade

Os valores ainda estão longe dos que são atribuídos aos homens, mas o que é facto é que no Mundial da Nova Zelândia e da Austrália assistiu-se ao crescimento dos prémios que triplicaram em relação às verbas que foram atribuídas no anterior Mundial em 2019.

Cada uma das 732 futebolistas recebeu um prémio mínimo de 27.200 euros, mas as campeãs, as jogadoras da seleção espanhola, irão receber cerca de 245 mil euros cada uma. Foram cerca de 138 milhões de euros atribuídos pela FIFA para as 32 seleções presentes em prova. Os prémios cobrem a preparação das equipas e os pagamentos aos clubes das jogadoras, e que teve um crescimento significativo. Em 2019 foram distribuídos cerca de 36,3 milhões em prémios.

Para se ter uma comparação com o futebol masculino, no Mundial do Qatar foram distribuídos 399,7 milhões de euros, com cada uma das seleções a ter direito a 8,1 milhõs de dólares.

Mundial de Recordes

No final da competição, o presidente da FIFA fez o balanço "da maior e melhor edição de todos os tempos" que gerou cerca de 570 milhões de dólares (cerca de 524 Milões de euros) em receitas.

A competição coorganizada pela Austrália e Nova Zelândia “ultrapassou os 570 milhões de dólares de faturação [cerca de 524 ME]", o que permitiu à FIFA "atingir o ponto de equilíbrio", assegurou Infantino, em Sidnei.

"Não perdemos dinheiro e este é o segundo evento desportivo que mais rende no cenário mundial, tirando, é claro, o Campeonato do Mundo masculino", afirmou o ítalo-suíço Gianni Infantino, reeleito em março para um novo mandato até 2027.

Nos estádios também foram atingidos novos recordes. A média de público nas bancadas situou-se nos 26 mil espectadores.

Antes do jogo dos oitavos de final em que a Suécia eliminou os Estados Unidos da América nas grandes penalidades, em Melbourne, 1.339.331 pessoas tinham marcado presença nos estádios, disse a federação internacional de futebol. A grande final contou com 75 mil espectadores nas bancadas. O futuro é por isso risonho, para uma competição com enorme impacto a nível mundial. O próximo Campeonato do Mundo realiza-se em 2027.